Unidades de Belo Horizonte, Divinópolis, Sete lagoas, Uberlândia, Uberaba, Governador Valadares, Juiz de Fora, Manhuaçu, Patos de Minas e Montes Claros estão recebendo auditores do Ministério da Saúde até 5 de maio
Com o objetivo de verificar a qualidade do plasma, dez unidades da Fundação Hemominas estão recebendo, de 26 de março a 5 de maio, auditores da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), do Ministério da Saúde. As unidades relacionadas são as de Belo Horizonte, Divinópolis, Sete lagoas, Uberlândia, Uberaba, Governador Valadares, Juiz de Fora, Manhuaçu, Patos de Minas e Montes Claros. O trabalho dos auditores deve ser finalizado em junho.
A auditoria da instituição federal abrange as atividades do ciclo do sangue, priorizando os pontos que tenham algum impacto na qualidade do plasma. Vários setores e processos são verificados, desde a recepção e cadastro de doadores, verificação de equipamentos, do setor de informática, até a análise de documentos. "Devemos dar parabéns para a Hemominas na documentação das unidades que já verificamos", afirma a chefe do Serviço de Gestão do Plasma da Hemobrás, Marisa Velloso Borges.
Para a Fundação Hemominas é muito interessante a presença dos auditores para a avaliação dos processos institucionais. É também uma oportunidade para que o ministério verifique a necessidade de melhorias no âmbito do gerenciamento do plasma. "Estamos aqui para, além de verificar os procedimentos, identificar a necessidade de novos equipamentos, inclusive com o envio de recursos para a compra dos mesmos", informa Marisa.
A gerente do Controle de Qualidade da Diretoria Técnico-científica da Fundação Hemominas, Flávia Naves Givisiez, confirma que a auditoria da Hemobrás é muito bem-vinda. "Através da auditoria, pode-se detectar oportunidades de melhorias em processos, inclusive necessidade de novos equipamentos. Um exemplo dessas melhorias foi a aquisição de freezers para congelamento rápido "blast freezer", que foram distribuídos para 33 hemocentros brasileiros, inclusive para algumas das nossas unidades que participam deste programa do ministério", afirma.
O sangue é formado pelos seguintes componentes: hemácias, plaquetas, leucócitos e plasma. O plasma é um líquido amarelo claro que representa 55% do volume total do sangue. Ele é constituído por 90% de água, onde se encontram dissolvidos proteínas, açúcares, gorduras e sais minerais. Através do plasma circulam, por exemplo, elementos nutritivos necessários à vida das células.
No Brasil, durante alguns anos, o plasma foi considerado um resíduo nos processos de separação do sangue total. Com o contrato de fracionamento industrial, os serviços brasileiros entenderam a importância deste hemocomponente na fabricação de medicamentos, aproveitando as tecnologias incorporadas à indústria farmacêutica. Hoje, a extração do plasma a partir do sangue total obedece a critérios rígidos de qualidade contidos na legislação brasileira. Segundo Flávia Givisiez, "engloba procedimentos padronizados de centrifugação, separação, congelamento e armazenamento com condições estabelecidas e processos de controle".
"Já que não possuímos ainda uma fábrica nacional, o Brasil envia o plasma excedente para ser industrializado por empresas estrangeiras, através de licitação internacional realizada pelo Ministério da Saúde", diz Flávia. "Com o envio da matéria-prima brasileira para a transformação em medicamentos, o produto final apresenta um custo menor", explica.
A Hemobrás está construindo a primeira fábrica de hemoderivados brasileira no estado de Pernambuco. As auditorias da Hemobrás fazem parte da implantação dessa fábrica. Os processos de preparo do plasma devem obedecer a normas estabelecidas para poder garantir um produto de qualidade.
De acordo com Marisa Velloso Borges, "a produção da fábrica em Pernambuco deve se iniciar em 2014. Já começamos com algumas atividades correlatas, como essas auditorias para a melhoria dos serviços e fornecimento de equipamentos", salienta.
Segundo a gerente da Fundação Hemominas, Flávia Naves Givisiez, o crescimento da importância do plasma muda até mesmo a relação que os funcionários de serviços de hemoterapia têm com o produto. "Encaminhar o plasma excedente para industrialização é, antes de tudo, uma questão de cidadania, pois existe falta dessa matéria-prima no mundo. Entender a finalidade do plasma na produção de hemoderivados faz com que todos nós sejamos responsáveis pelo melhor aproveitamento desse componente, evitando desperdícios e descartes desnecessários, destaca.
Flávia acrescenta que "temos que ter uma visão voltada para a indústria, para adquirir a nossa autosuficiência na fabricação de hemoderivados, ou seja, medicamentos importantes para a população".
Reunião em Pernambuco
A presidente da Fundação Hemominas, Júnia Cioffi, esteve presente em reunião realizada em Pernambuco. Dirigentes da Hemobrás, do Ministério da Saúde e de 33 hemocentros brasileiros discutiram mecanismos de sensibilizar a sociedade para a doação de sangue. O Brasil tem o desafio de aumentar a quantidade da matéria-prima para a fabricação de remédios, ou seja, o plasma que é doado pelos brasileiros nos serviços de hemoterapias de todo o país.
"Todos os serviços da Hemominas estão sendo qualificados, demonstrando a nossa qualidade na produção do plasma", informa Júnia Cioffi. Segundo o Ministério da Saúde, são processados cerca de 110 mil litros de plasma por ano. Quando a fábrica de hemoderivados da Hemobrás estiver funcionando plenamente, terá a capacidade de processar 500 mil litros/ano. Em 2010, a Hemominas contribuiu com mais de 62 mil unidades de plasma fresco congelado para envio à indústria, o que corresponde a mais de 11 mil litros de plasma.
Plasma essencial aos hemofílicos
As coagulopatias são alterações na coagulação do sangue. A coagulopatia hereditária mais comum é a hemofilia. Sua principal característica são os sangramentos nas articulações. Com o tempo, se repetido na mesma articulação, esse sangramento pode levar o paciente à deficiência física. A articulação mais acometida é a do joelho, por isso o hemofílico tem dificuldade de andar. Os sangramentos ocorrem, muitas vezes, espontaneamente nesses pacientes.
O plasma se transforma em um hemoderivado após sua industrialização. Os fatores de coagulação VIII e IX extraídos do plasma são utilizados no tratamento da hemofilia e outras coagulopatias. Outros medicamentos retirados do plasma e produzidos pela indústria podem ser aplicados em pessoas portadoras de imunodeficiências, cirrose, câncer, Aids e no tratamento de queimados.
Para as pessoas portadoras de hemofilia, o uso do fator é essencial para sua sobrevivência. Os fatores liofilizados VIII e IX são fornecidos pelo Ministério da Saúde e distribuídos pelos hemocentros brasileiros aos seus pacientes.
Maximiliano Anarelli de Souza é paciente da Fundação Hemominas desde 1990. Ele mora em Timóteo, no Vale do Aço, e faz tratamento no Hemocentro de Belo Horizonte. Maxi, como é conhecido, utiliza o fator VIII quando acontecem hemorragias e quando necessita de algum tratamento dentário ou cirurgia.
Segundo Maxi, as hemorragias são imprevisíveis. "Às vezes, passo um mês sem hemorragia, outros meses ela pode acontecer mais de uma vez", afirma. Ainda de acordo com Maxi, esta situação imprevisível do hemofílico faz com que a dose domiciliar, ou seja, a dose do fator que o paciente leva para sua casa seja fundamental. "As doses domiciliares são muito importantes para nós hemofílicos, pois não sabemos quando as hemorragias vão surgir e moramos longe dos hemocentros", explica.
Maximiliano vai ao Hemocentro de Belo Horizonte pelo menos de três em três meses, pois quando usa sua dose domiciliar já procura obter outra. "É uma segurança ter o fator em casa para o caso de uma emergência", finaliza.
Outro paciente da Hemominas é Bernardo Augusto Soares Ribeiro, estudante, 27 anos. Ele começou o tratamento aos três meses de vida, quando descobriu a doença. Semanalmente ele faz uso do fator VIII, em média são oito consultas por mês no ambulatório do Hemocentro de Belo Horizonte. O jovem passa cerca de 1h30 na Hemominas para realizar as consultas e receber as doses do fator.
Segundo Bernardo, os maiores desafios dos portadores de hemofilia são o preconceito, as dúvidas, a falta de informação e as limitações ocasionadas pela doença. Mas, apesar de todas as dificuldades, ele destaca que é possível levar uma vida tranquila. "Com o tratamento adequado conseguimos levar uma vida normal e conviver com as limitações da hemofilia", diz o estudante.
A funcionária pública Dolores Aparecida Antunes Silva é mãe do paciente Victor Hugo Silva Antunes, de 14 anos. Ela conta que descobriu que o filho era portador de hemofilia quando ele tinha 6 anos de idade. "Ele caiu e fraturou o braço. No local, apareceu um hematoma que não recuperou. Fizemos diversos exames até descobrir o que era", afirma a mãe do paciente. Para Victor Hugo, o maior incômodo são as restrições ocasionadas pela doença. "É ruim não poder fazer esportes, correr, jogar bola. Gosto de fazer isso, mas não posso". A mãe do garoto afirma que ele não vai ao ambulatório com frequência, apenas quando machuca e precisa do fator VIII. "Percebo que quando ele precisa do fator, ele fica inquieto, nervoso e não dorme direito", conta a funcionária pública.
Dolores Aparecida elogia o atendimento que recebe na Hemominas e a estrutura do ambulatório. "Os médicos atendem bem e esclarecem todas as dúvidas". Mas ela afirma que tem uma preocupação relacionada ao tratamento que o filho faz. "Preocupo-me em saber que o uso contínuo do fator pode ocasionar novas doenças".
O médico Rodrigo Naves Givisiez esclarece que "o risco de transmissão de doenças (HIV, chagas, sífilis e outros) pelo uso de fatores é praticamente inexistente. Como em toda transfusão, é mínimo o risco de transmissão de doenças". Ele ressalta que é extremamente importante o uso do fator no tratamento dos hemofílicos. "O fator é o que salva a vida dele, sem ele, o paciente pode morrer", afirma o médico. Ele explica que o fator corrige uma deficiência congênita do hemofílico e é fundamental para a coagulação do sangue.
Agência Minas
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