quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Estudo aponta situação crítica da Lagoa da Pampulha

Carlos Augusto Moreira (presidente da Terra Viva Organização Ambiental), Lílian Marotta (promotora de Meio Ambiente), Apolo Heringer Lisboa (coordenador do Projeto Manuelzão), Cláudio Luis Gonzaga Dias (assistente de Agência da Caixa Econômica Federal - Superintendência Centro de Minas) | Ricardo Barbosa/ALMG

Assoreamento, invasão de espécies exóticas de peixes e deposição inadequada do lixo. Esses são alguns dos problemas que atingem a Lagoa da Pampulha apontados em audiência pública para discutir o lançamento do Atlas da Qualidade da Água do Reservatório da Pampulha, elaborado pelo Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios (LGAR), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A reunião foi promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais nesta quarta-feira (7/12/11).

O biólogo Ricardo Motta Pinto-Coelho, vice-presidente da Fundação Unesco-Hidroex e coordenador do LGAR, foi quem produziu o Atlas, juntamente com alunos e pesquisadores. Previsto para ser lançado em janeiro de 2012, o documento traz números que mostram a situação crítica em que se encontra o espelho d'água da Pampulha. 

Mensalmente, quase 5 toneladas de poluentes são despejados no local por oito córregos. O lixo e o esgoto foram responsáveis pela redução de 20% de seu porte nos últimos 20 anos, segundo apontou o levantamento. Ainda de acordo com o estudo, quase 22% da área estão totalmente assoreadas. "A represa da Pampulha apresenta desafios tecnológicos e de gestão que precisam ser superados para que possamos voltar a desfrutar da área", afirmou Ricardo.

Oportunidade – Para o biólogo, as copas das Confederações e do Mundo, em Belo Horizonte, são oportunidades para que se possa ter uma lagoa em condição melhor que a atual. Ricardo acredita que, em 2014, se ações forem concretizadas, é possível ter índices de qualidade de água próximos aos que foram no passado. "O momento é agora, temos a 'faca e o queijo' na mão: é preciso promover um movimento apartidário em prol da lagoa", afirmou.

O coordenador do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer Lisboa, discorda. Para ele, a lagoa só fica em foco em épocas de eleição ou de grandes empreendimentos, como a Copa. "Não vamos enganar a população de Belo Horizonte: ela não ficará ideal em 2014". Para ele, "anos de negligência" dificultam uma solução rápida. Apolo acredita que muitas obras que vêm sendo feitas, como algumas voltadas para o desassoreamento, são apenas "maquiagem". Ele justifica sua opinião dizendo que "nunca houve, até hoje, um trabalho de profundidade para resolver o problema".

Segundo Apolo, o principal programa, atualmente, que pode beneficiar a limpeza do espelho d'água é o Caça-esgoto, de levantamento e corte de lançamentos clandestinos de resíduos em córregos. No entanto, ele alertou que é preciso sensibilizar a população. "Se a Copasa fizer o trabalho, mas as pessoas não ligarem seus esgotos à rede, não adiantará em nada", disse. O deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento para a audiência, pensa de modo semelhante. "É preciso haver fiscalização e trabalho educacional para que as pessoas cumpram o que determina o programa. Muitos deixam de fazer para não terem que pagar taxas", afirmou.

Esgoto – Na opinião do biólogo Ricardo Motta, os primeiros passos para recuperar a lagoa são a retirada e o tratamento do esgoto. O representante da Caixa Econômica Federal, Cláudio Luiz Gonzaga Dias, contou em reunião que, recentemente, convênios com a Copasa e a Prefeitura de Contagem foram assinados no valor de 100 milhões, com o objetivo de despoluir dois dos principais córregos que abastecem a represa: o Sarandi e o Ressaca.

Implantar programas de reciclagem e coleta seletiva de lixo na bacia da Pampulha; melhorar a drenagem e criar programas de prevenção e combate a enchentes urbanas; e impedir verticalização na orla da Pampulha são outras medidas apontadas pelo biólogo para recuperar a represa. "A solução tem que ser muldisciplinar e transversal", afirmou.

Nova visão - Para o coordenador do Manuelzão, é necessária uma nova forma de encarar o espelho d'água. "É preciso trabalhar a Pampulha dentro da visão de bacia. Olhar a lagoa como pertencente às bacias do Rio das Velhas e do São Francisco", acredita. Além disso, para ele, os setores empresarial, governamental e a sociedade civil têm que trabalhar em conjunto. Apolo acredita que a situação em que se encontra a lagoa reflete a civilização contemporânea, a nossa mentalidade e o modo como agimos. "Atualmente, há falência de pensamento de gestão, quando não se consegue mais atingir a quantidade imensa de problemas acumulados. E isso acontece em Belo Horizonte".

Para prosseguir a discussão, o deputado Rogério Correia sugeriu que duas novas reuniões sejam feitas em fevereiro do próximo ano: uma em Contagem, outra na região da Pampulha. Para ele, a Comissão de Meio Ambiente tem um papel importante a cumprir na discussão. "Vamos fazer um controle do que será feito no conjunto de obras e intervenções na lagoa", disse.

Imprensa ALMG

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